O processo dos EUA contra o Google por suposto monopólio continua revelando bastidores do mercado. Gabriel Weinberg, CEO do DuckDuckGo, disse que a Apple esteve interessada em usar seu buscador como padrão no modo privado do Safari, mas o contrato dela com o Google não deixou. John Giannandrea, executivo da Apple, conta uma história um pouco diferente.
O DuckDuckGo é um buscador que promete uma proteção maior à privacidade dos usuários. Ele diz não criar perfis baseados nas buscas realizadas, por exemplo — coisa que o Google faz para direcionar anúncios. Weinberg foi uma das testemunhas do processo do Departamento de Justiça dos EUA contra o Google.

O CEO falou sobre o impacto que o acordo da gigante das buscas com fabricantes e outras empresas para ser o buscador padrão de computadores, smartphones e navegadores. Estima-se que o Google gaste anualmente US$ 10 bilhões nesses contratos.
Segundo Weinberg, o DuckDuckGo fechou um acordo com a Apple em 2014 para aparecer entre as opções de buscador do Safari, navegador padrão de Macs e iPhones.
A empresa também fez pressão para que seu produto fosse o padrão no modo privado do browser, que não armazena informações no histórico e tem proteções contra rastreamento. Faz sentido: seria uma opção com um grau maior de privacidade.
Weinberg relatou que a Apple pareceu muito interessada em 2016, e as conversas avançaram entre 2017 e 2018.
Os executivos da marca da maçã, porém, mostravam preocupação: o contrato com o Google podia impedir um acordo com o DuckDuckGo. Em 2019, a Apple abandonou a ideia.
O CEO disse ainda que o DuckDuckGo tentou abordar a Samsung e outras empresas, sem sucesso.
“Os contratos de cada uma dessas companhias com o Google foram cruciais para nos impedir de fechar acordos com elas”, declarou Weinberg.
Executivo diz que não é bem assim
John Giannandrea, que entrou na Apple em 2018 como chefe dos produtos de busca, contou uma história um pouco diferente. Ele diz que, até onde sabe, a empresa não considerou migrar para o DuckDuckGo.
Em um e-mail enviado para outros executivos da Apple em fevereiro de 2019, Giannandrea disse que a trocar era provavelmente uma má ideia.
Para o chefe de busca, o motivo para a troca seria apenas uma suposição de que o DuckDuckGo protegeria melhor a privacidade. O próprio Giannandrea suspeita disso, mencionando que o buscador usa resultados do Bing.
“Eu provavelmente insistiria em uma investigação mais profunda sobre o DuckDuckGo”, avalia o executivo.
De fato, o DuckDuckGo tem alguns contratos com a Microsoft. As propagandas que o buscador exibe são da rede de anúncios da empresa de Redmond.
Em um episódio mais controverso, um pesquisador descobriu que o navegador do DuckDuckGo (não o buscador) permite algum rastreamento da Microsoft, apesar de bloquear o de outras empresas, como Google e Meta.
Apple também considerou comprar Bing
Outro ponto que surgiu nos depoimentos do processo contra o Google foi a possibilidade de a Apple comprar o Bing.
As primeiras notícias sobre isso surgiram em setembro de 2023 e, agora, foram confirmadas pelos depoimentos.

A Apple se encontrou com a Microsoft em 2018 e 2020 para discutir uma compra do Bing ou uma joint venture entre as duas empresas.
Estudos mostraram, porém, que o Bing tinha resultados piores que o Google, exceto em buscas no desktop em inglês. O próprio Satya Nadella deve concordar.
Outra explicação que surgiu foi a de que essas conversas eram uma forma de pressionar o Google e conseguir um contrato mais vantajoso. A própria Microsoft sabia disso.
“Não é segredo para ninguém que a Apple ganha mais dinheiro por o Bing existir [em negociações assim] do que o próprio Bing [ganha com suas operações]”, disse Mikhail Parakhin, chefe de publicidade e serviços web da Microsoft.
Com informações: Bloomberg, Reuters, The Verge
Apple considerou usar DuckDuckGo como padrão no modo privado do Safari